Além disso, tivemos também a presença do palhaço Zabobrim (de Esio Magalhães), cuja atuação, entre partes da palestra, abria espaços de jogo cênico com o público presente. Estes espaços ajudaram a construir e ilustrar a profunda reflexão sobre a arte do palhaço.
Conforme explicou-nos Esio, a improvisação é constante no trabalho do palhaço, na medida em que este se encontra em permanente relação com o público, donde surgem interferências e interações. Neste sentido, as situações – quase sempre imprevistas – desta relação configuram-se como um “espaço de não-saber”.
Se observarmos bem o palhaço, aprenderemos com ele sobre a necessidade de se mergulhar para dentro de nós mesmos. O contato com nossa interioridade permite-nos melhor compreender o “ridículo de nós mesmos”, ou seja, acessar em nós aquilo que pode ser considerado o “ridículo arquetípico”, o ridículo comum e representativo de todo ser humano.
A partir deste mergulho interno, o palhaço passa a compreender de que forma expressar o seu ridículo, de modo a tocar e comover o público. Para isso, é preciso o exercício da escuta, cuja atenção está voltada para as reações do público, que impulsionam as ações do palhaço e constroem sua relação com o mundo.
Portanto, uma reflexão sobre a arte do palhaço - que supõe esse mergulho na interioridade – pode nos ensinar sobre nossos próprios sentidos, desejos, alegrias, vitórias e também sobre nossas frustrações, medos e derrotas. O palhaço, em sua condição de arquétipo da humanidade, é aquele que, embora busque sempre a vitória, está fadado ao fracasso. Mas ele continua a tentar, não desiste de jogar, rindo-se (e fazendo-nos rir) de suas próprias derrotas, que de certa forma simbolizam as derrotas de cada um de nós. Como nos ensina Jung, “é melhor ser inteiro que ser bom”: esta é também a mensagem implícita do palhaço.
Citando seu amigo palhaço Chacovachi, Esio alertou que “todos somos palhaços, mas só alguns vivem disto”. A partir do conteúdo de sua palestra, acima exposto, poderíamos também dizer que “todos somos palhaços, mas só alguns vivem isto”.
Explico-me: em minha opinião pessoal, creio que em geral nos faltam duas coisas. A primeira coisa que nos falta é conhecermos melhor nossa interioridade, anseios, medos, desejos, qualidades, defeitos. Em segundo lugar, falta-nos aprender a “escutar” de fato, estar atento aos sinais para que, neste grande espaço de não-saber (improviso) que é a vida, possamos agir de acordo com aquilo que realmente somos, nossa essência, nossa interioridade. É o que pode nos ensinar nosso “palhaço interno”, mas que nem todos aprendemos, ou não vivemos a lição aprendida.
Para finalizar, algumas palavras sobre os protagonistas deste encontro. Zabobrim é um palhaço humano, cujas peripécias nos fazem rir e também chorar. Esio Magalhães é um humano palhaço (no bom sentido da palavra), cuja arte e ofício nos levam a refletir sobre o ridículo – e também o belo – que há em cada um de nós.
PRÓXIMO EVENTO:
Interioridade e Escuta – Palestra: “Nietzsche”.
Data e Horário: 29/10/2007 às 20:00.
Local: Casa Santo Inácio de Loyola – Rua Bernardo de Souza Campos, 148 (próximo ao Colégio Dom Barreto) – Ponte Preta – Campinas/SP.
Inscrições gratuitas através do e-mail stinacio@gmail.com, enviando nome e telefone.
Outras informações: (19) 3233-4181.