sábado, 27 de outubro de 2007

Interioridade e Escuta 3

No dia 10/10/2007, ocorreu o quarto encontro do evento “Interioridade e Escuta”. Nesta ocasião, o tema foi “Encontro: o espaço do não-saber na visão de um palhaço” e o palestrante foi Esio Magalhães, palhaço, ator e fundador do Barracão Teatro.

Além disso, tivemos também a presença do palhaço Zabobrim (de Esio Magalhães), cuja atuação, entre partes da palestra, abria espaços de jogo cênico com o público presente. Estes espaços ajudaram a construir e ilustrar a profunda reflexão sobre a arte do palhaço.

Conforme explicou-nos Esio, a improvisação é constante no trabalho do palhaço, na medida em que este se encontra em permanente relação com o público, donde surgem interferências e interações. Neste sentido, as situações – quase sempre imprevistas – desta relação configuram-se como um “espaço de não-saber”.

Se observarmos bem o palhaço, aprenderemos com ele sobre a necessidade de se mergulhar para dentro de nós mesmos. O contato com nossa interioridade permite-nos melhor compreender o “ridículo de nós mesmos”, ou seja, acessar em nós aquilo que pode ser considerado o “ridículo arquetípico”, o ridículo comum e representativo de todo ser humano.

A partir deste mergulho interno, o palhaço passa a compreender de que forma expressar o seu ridículo, de modo a tocar e comover o público. Para isso, é preciso o exercício da escuta, cuja atenção está voltada para as reações do público, que impulsionam as ações do palhaço e constroem sua relação com o mundo.

Portanto, uma reflexão sobre a arte do palhaço - que supõe esse mergulho na interioridade – pode nos ensinar sobre nossos próprios sentidos, desejos, alegrias, vitórias e também sobre nossas frustrações, medos e derrotas. O palhaço, em sua condição de arquétipo da humanidade, é aquele que, embora busque sempre a vitória, está fadado ao fracasso. Mas ele continua a tentar, não desiste de jogar, rindo-se (e fazendo-nos rir) de suas próprias derrotas, que de certa forma simbolizam as derrotas de cada um de nós. Como nos ensina Jung, “é melhor ser inteiro que ser bom”: esta é também a mensagem implícita do palhaço.

Citando seu amigo palhaço Chacovachi, Esio alertou que “todos somos palhaços, mas só alguns vivem disto”. A partir do conteúdo de sua palestra, acima exposto, poderíamos também dizer que “todos somos palhaços, mas só alguns vivem isto”.

Explico-me: em minha opinião pessoal, creio que em geral nos faltam duas coisas. A primeira coisa que nos falta é conhecermos melhor nossa interioridade, anseios, medos, desejos, qualidades, defeitos. Em segundo lugar, falta-nos aprender a “escutar” de fato, estar atento aos sinais para que, neste grande espaço de não-saber (improviso) que é a vida, possamos agir de acordo com aquilo que realmente somos, nossa essência, nossa interioridade. É o que pode nos ensinar nosso “palhaço interno”, mas que nem todos aprendemos, ou não vivemos a lição aprendida.

Para finalizar, algumas palavras sobre os protagonistas deste encontro. Zabobrim é um palhaço humano, cujas peripécias nos fazem rir e também chorar. Esio Magalhães é um humano palhaço (no bom sentido da palavra), cuja arte e ofício nos levam a refletir sobre o ridículo – e também o belo – que há em cada um de nós.

PRÓXIMO EVENTO:
Interioridade e Escuta – Palestra: “Nietzsche”.
Palestrante: Oswaldo Giacóia, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.
Data e Horário: 29/10/2007 às 20:00.
Local: Casa Santo Inácio de Loyola – Rua Bernardo de Souza Campos, 148 (próximo ao Colégio Dom Barreto) – Ponte Preta – Campinas/SP.
Inscrições gratuitas através do e-mail stinacio@gmail.com, enviando nome e telefone.
Outras informações: (19) 3233-4181.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Interioridade e Escuta 2

Conforme já comentei anteriormente, tenho participado e ajudado a divulgar um evento chamado Interioridade e Escuta. No dia 14/06/2007 ocorreu o terceiro encontro deste evento. Na ocasião, tivemos a presença do Prof. Mauro Amatuzzi, professor aposentado da USP e atualmente docente da PUC-Campinas, que ministrou a palestra “Pensando o sonhar com Tomás de Aquino”.

Segundo Prof. Mauro, é preciso levar em consideração que Tomás de Aquino, por ter vivido antes de Descartes (paradigma cartesiano), não partilhava da visão fragmentada e “separatista” entre matéria e espírito. De fato, para este teólogo medieval o sonho fica no cruzamento da espiritualidade com a animalidade. Neste sentido, abordando questões da psicologia moderna, o palestrante opinou que o olhar do psicólogo é mais próximo do teólogo (espiritual) do que do médico (material), considerando a visão dualista corpo e espírito. Da mesma forma que a teologia, a psicologia deve ver o ser humano a partir de seu interior e de seu sentido de vida.

Em relação a temas mais genéricos sobre o sonho, Prof. Mauro apontou que quando os sentidos externos cessam (sono), a imaginação fica livre. Ao contrário, quando estamos acordados, a imaginação funciona articulada com a razão e com nossos sentidos externos. Assim, de certa forma, o sonho seria a movimentação livre da imaginação durante o sono.

Mais adiante, Prof. Mauro explicou que para Tomás de Aquino não há muita preocupação em interpretar os sonhos, mas sim em dar-lhes um sentido. Deste modo, suas perguntas capitais nesta área foram: “O que é o sonho? O que representa isso?”. E, a partir destas questões, Tomás de Aquino fala dos sonhos através de um enfoque profético ou de revelação.

Para melhor entendermos esta abordagem, o palestrante descreveu os determinantes (causas) do sonho, cuja breve descrição se encontra a seguir:

  1. Anímico (psicológico): o sonho como conseqüência de desejos e pensamentos conscientes;
  2. Orgânico (corporal): o sonho tem uma função biológica, como fixação de memória e aprendizado. Ou seja, o sonho ajuda a concluir processos orgânicos e/ou cognitivos inacabados;
  3. Ambiental (externo): o sonho como reflexo de influências dos corpos celestes (astros) sobre a Terra; o ambiente externo (luz, sombra, “informações emocionais”, sutilezas) influencia processos (químicos, biológicos, etc);
  4. Espiritual: o sonho como experiência profética ou revelação; percepção da realidade (verdade mais profunda) por caminhos extraordinários e inusitados, sem que haja razões para a revelação (intuição).

Para Tomás de Aquino, cuja abordagem espiritual é a mais freqüente em suas teorias sobre o tema, é muito conveniente que Deus se revele em sonhos porque, enquanto acordados, nossa atenção (mente) está totalmente voltada às tarefas cotidianas e preocupações, que nos desviam das verdades mais profundas. Ou seja, a revelação divina traduz-se em um processo intuitivo, em uma ligação com a Fonte do Ser. Neste sentido, o silêncio interior – experiência obtida através da meditação e da contemplação – desempenha fundamental importância, pois nos coloca em um estado de predisposição para os processos intuitivos, para as revelações e para as graças divinas.

Ao encerramento de sua interessante palestra, o Prof. Mauro apontou algumas formas de se trabalhar os nossos sonhos: contá-los a familiares e amigos; registrá-los em um diário de sonhos; e expressá-los artisticamente (poesia, pintura, escultura, etc). Para maior aprofundamento sobre o tema, ele recomendou o livro “Psicologia e Espiritualidade” (Editora Paulus) e, por fim, ensinou a todos que: “Um sonho não lembrado é como uma carta não aberta”.

Aproveito para divulgar e convidá-los ao quarto encontro “Interioridade e Escuta”, a realizar-se hoje (10/10/2007) às 20hs. A palestra “Encontro: o espaço do não-saber na visão de um palhaço” será ministrada por Esio Magalhães, palhaço, ator e fundador do Barracão Teatro.

O EVENTO:
Interioridade e Escuta – Palestra: “Encontro: o espaço do não-saber na visão de um palhaço”.
Data e Horário: 10/10/2007 às 20:00.
Local: Casa Santo Inácio de Loyola – Rua Bernardo de Souza Campos, 148 (próximo ao Colégio Dom Barreto) – Ponte Preta – Campinas/SP.
Inscrições gratuitas através do e-mail stinacio@gmail.com, enviando nome e telefone.
Outras informações: (19) 3233-4181