sábado, 27 de outubro de 2007

Interioridade e Escuta 3

No dia 10/10/2007, ocorreu o quarto encontro do evento “Interioridade e Escuta”. Nesta ocasião, o tema foi “Encontro: o espaço do não-saber na visão de um palhaço” e o palestrante foi Esio Magalhães, palhaço, ator e fundador do Barracão Teatro.

Além disso, tivemos também a presença do palhaço Zabobrim (de Esio Magalhães), cuja atuação, entre partes da palestra, abria espaços de jogo cênico com o público presente. Estes espaços ajudaram a construir e ilustrar a profunda reflexão sobre a arte do palhaço.

Conforme explicou-nos Esio, a improvisação é constante no trabalho do palhaço, na medida em que este se encontra em permanente relação com o público, donde surgem interferências e interações. Neste sentido, as situações – quase sempre imprevistas – desta relação configuram-se como um “espaço de não-saber”.

Se observarmos bem o palhaço, aprenderemos com ele sobre a necessidade de se mergulhar para dentro de nós mesmos. O contato com nossa interioridade permite-nos melhor compreender o “ridículo de nós mesmos”, ou seja, acessar em nós aquilo que pode ser considerado o “ridículo arquetípico”, o ridículo comum e representativo de todo ser humano.

A partir deste mergulho interno, o palhaço passa a compreender de que forma expressar o seu ridículo, de modo a tocar e comover o público. Para isso, é preciso o exercício da escuta, cuja atenção está voltada para as reações do público, que impulsionam as ações do palhaço e constroem sua relação com o mundo.

Portanto, uma reflexão sobre a arte do palhaço - que supõe esse mergulho na interioridade – pode nos ensinar sobre nossos próprios sentidos, desejos, alegrias, vitórias e também sobre nossas frustrações, medos e derrotas. O palhaço, em sua condição de arquétipo da humanidade, é aquele que, embora busque sempre a vitória, está fadado ao fracasso. Mas ele continua a tentar, não desiste de jogar, rindo-se (e fazendo-nos rir) de suas próprias derrotas, que de certa forma simbolizam as derrotas de cada um de nós. Como nos ensina Jung, “é melhor ser inteiro que ser bom”: esta é também a mensagem implícita do palhaço.

Citando seu amigo palhaço Chacovachi, Esio alertou que “todos somos palhaços, mas só alguns vivem disto”. A partir do conteúdo de sua palestra, acima exposto, poderíamos também dizer que “todos somos palhaços, mas só alguns vivem isto”.

Explico-me: em minha opinião pessoal, creio que em geral nos faltam duas coisas. A primeira coisa que nos falta é conhecermos melhor nossa interioridade, anseios, medos, desejos, qualidades, defeitos. Em segundo lugar, falta-nos aprender a “escutar” de fato, estar atento aos sinais para que, neste grande espaço de não-saber (improviso) que é a vida, possamos agir de acordo com aquilo que realmente somos, nossa essência, nossa interioridade. É o que pode nos ensinar nosso “palhaço interno”, mas que nem todos aprendemos, ou não vivemos a lição aprendida.

Para finalizar, algumas palavras sobre os protagonistas deste encontro. Zabobrim é um palhaço humano, cujas peripécias nos fazem rir e também chorar. Esio Magalhães é um humano palhaço (no bom sentido da palavra), cuja arte e ofício nos levam a refletir sobre o ridículo – e também o belo – que há em cada um de nós.

PRÓXIMO EVENTO:
Interioridade e Escuta – Palestra: “Nietzsche”.
Palestrante: Oswaldo Giacóia, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp.
Data e Horário: 29/10/2007 às 20:00.
Local: Casa Santo Inácio de Loyola – Rua Bernardo de Souza Campos, 148 (próximo ao Colégio Dom Barreto) – Ponte Preta – Campinas/SP.
Inscrições gratuitas através do e-mail stinacio@gmail.com, enviando nome e telefone.
Outras informações: (19) 3233-4181.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Interioridade e Escuta 2

Conforme já comentei anteriormente, tenho participado e ajudado a divulgar um evento chamado Interioridade e Escuta. No dia 14/06/2007 ocorreu o terceiro encontro deste evento. Na ocasião, tivemos a presença do Prof. Mauro Amatuzzi, professor aposentado da USP e atualmente docente da PUC-Campinas, que ministrou a palestra “Pensando o sonhar com Tomás de Aquino”.

Segundo Prof. Mauro, é preciso levar em consideração que Tomás de Aquino, por ter vivido antes de Descartes (paradigma cartesiano), não partilhava da visão fragmentada e “separatista” entre matéria e espírito. De fato, para este teólogo medieval o sonho fica no cruzamento da espiritualidade com a animalidade. Neste sentido, abordando questões da psicologia moderna, o palestrante opinou que o olhar do psicólogo é mais próximo do teólogo (espiritual) do que do médico (material), considerando a visão dualista corpo e espírito. Da mesma forma que a teologia, a psicologia deve ver o ser humano a partir de seu interior e de seu sentido de vida.

Em relação a temas mais genéricos sobre o sonho, Prof. Mauro apontou que quando os sentidos externos cessam (sono), a imaginação fica livre. Ao contrário, quando estamos acordados, a imaginação funciona articulada com a razão e com nossos sentidos externos. Assim, de certa forma, o sonho seria a movimentação livre da imaginação durante o sono.

Mais adiante, Prof. Mauro explicou que para Tomás de Aquino não há muita preocupação em interpretar os sonhos, mas sim em dar-lhes um sentido. Deste modo, suas perguntas capitais nesta área foram: “O que é o sonho? O que representa isso?”. E, a partir destas questões, Tomás de Aquino fala dos sonhos através de um enfoque profético ou de revelação.

Para melhor entendermos esta abordagem, o palestrante descreveu os determinantes (causas) do sonho, cuja breve descrição se encontra a seguir:

  1. Anímico (psicológico): o sonho como conseqüência de desejos e pensamentos conscientes;
  2. Orgânico (corporal): o sonho tem uma função biológica, como fixação de memória e aprendizado. Ou seja, o sonho ajuda a concluir processos orgânicos e/ou cognitivos inacabados;
  3. Ambiental (externo): o sonho como reflexo de influências dos corpos celestes (astros) sobre a Terra; o ambiente externo (luz, sombra, “informações emocionais”, sutilezas) influencia processos (químicos, biológicos, etc);
  4. Espiritual: o sonho como experiência profética ou revelação; percepção da realidade (verdade mais profunda) por caminhos extraordinários e inusitados, sem que haja razões para a revelação (intuição).

Para Tomás de Aquino, cuja abordagem espiritual é a mais freqüente em suas teorias sobre o tema, é muito conveniente que Deus se revele em sonhos porque, enquanto acordados, nossa atenção (mente) está totalmente voltada às tarefas cotidianas e preocupações, que nos desviam das verdades mais profundas. Ou seja, a revelação divina traduz-se em um processo intuitivo, em uma ligação com a Fonte do Ser. Neste sentido, o silêncio interior – experiência obtida através da meditação e da contemplação – desempenha fundamental importância, pois nos coloca em um estado de predisposição para os processos intuitivos, para as revelações e para as graças divinas.

Ao encerramento de sua interessante palestra, o Prof. Mauro apontou algumas formas de se trabalhar os nossos sonhos: contá-los a familiares e amigos; registrá-los em um diário de sonhos; e expressá-los artisticamente (poesia, pintura, escultura, etc). Para maior aprofundamento sobre o tema, ele recomendou o livro “Psicologia e Espiritualidade” (Editora Paulus) e, por fim, ensinou a todos que: “Um sonho não lembrado é como uma carta não aberta”.

Aproveito para divulgar e convidá-los ao quarto encontro “Interioridade e Escuta”, a realizar-se hoje (10/10/2007) às 20hs. A palestra “Encontro: o espaço do não-saber na visão de um palhaço” será ministrada por Esio Magalhães, palhaço, ator e fundador do Barracão Teatro.

O EVENTO:
Interioridade e Escuta – Palestra: “Encontro: o espaço do não-saber na visão de um palhaço”.
Data e Horário: 10/10/2007 às 20:00.
Local: Casa Santo Inácio de Loyola – Rua Bernardo de Souza Campos, 148 (próximo ao Colégio Dom Barreto) – Ponte Preta – Campinas/SP.
Inscrições gratuitas através do e-mail stinacio@gmail.com, enviando nome e telefone.
Outras informações: (19) 3233-4181

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A Primavera

Ontem, dia 23 de setembro, começou a Primavera no hemisfério sul. Esta é a estação da renovação de um ciclo, do florescimento e da exuberância da vida. Traz-nos inspiração e otimismo numa explosão de cores.

É uma ocasião oportuna para ler (ou reler) o texto “Primavera”, de Cecília Meireles. Recebi este texto por e-mail de um amigo. E este texto também está reproduzido
neste site e neste outro.

Primavera

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, “por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida” e efêmera.

(Cecília MEIRELES. Obra em Prosa - Volume 1, Ed. Nova Fronteira: Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.)



Que a Primavera traga renovação e otimismo. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Romantismo, Goethe e Werther

Por estes dias estive lendo sobre a escola literária conhecida como Romantismo, cujas primeiras manifestações ocorreram na Europa em fins do século XVIII. Para ser mais específico, considera-se que a obra Werther (que em português também recebe o título de “Os sofrimentos do jovem Werther”), do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, seja o marco inicial da escola romântica européia. Vejamos um trecho deste livro, um romance epistolar, em que o protagonista Werther se corresponde com Wilhelm:

A vida humana não passa de um sonho. Mais de uma pessoa já pensou nisso. Pois essa impressão também me acompanha por toda parte. Quando vejo os estreitos limites onde se acham encerradas as faculdades ativas e investigadoras do homem, e como todo nosso labor visa apenas a satisfazer nossas necessidades, as quais, por sua vez, não têm outro objetivo senão prolongar nossa mesma existência; quando verifico que o nosso espírito só pode encontrar tranqüilidade por meio de uma resignação povoada de sonhos, como um presidiário que adornasse de figuras multicoloridas e luminosas perspectivas as paredes de sua cela... tudo isso, Wilhelm, me faz emudecer. Concentro-me e encontro um mundo em mim mesmo! Mas também aí, é um mundo de pressentimentos e desejos obscuros e não de imagens nítidas e forças vivas. Tudo flutua vagamente nos meus sentidos e, assim, sorrindo e sonhando, prossigo na minha viagem através do mundo!


Este pequeno trecho fez-me refletir profundamente. Imediatamente relacionei-o ao filme Matrix: vivemos uma “realidade” que não é real, mas apenas sonhada por nós. Ou ainda, recorrendo à milenar sabedoria da Tradição Budista, diz-se que tudo é “maya”, tudo é ilusão. Criamos nossa realidade, dentre infinitas outras possibilidades, a partir de nossa mente. Como diz o jovem Werther: “Concentro-me e encontro um mundo em mim mesmo!”. Tudo o que precisamos já se encontra dentro de cada um de nós. Quando quisermos, podemos sair de nossa própria prisão: somos livres!

[Som ambiente: “Redemption Song” de Bob Marley & The Wailers – Emancipate yourselves from mental slavery, none but ourselves can free our minds...]

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O milagre do dia 11 de setembro

Nesta data de hoje, 11 de setembro, muito se fala de um trágico acontecimento há 6 anos atrás: os ataques terroristas nos Estados Unidos. Nesta mesma data, há um outro fato triste da história da humanidade: em 11 de setembro de 1973 ocorreu o golpe de estado que encerrou o governo democrático de Salvador Allende no Chile. Além destes dois, muitos outros fatos ocorreram em um 11 de setembro.

Mas, no dia de hoje, gostaria de trazer uma linda história, da qual tomei conhecimento apenas recentemente, e que também ocorreu em um 11 de setembro. Na verdade, trata-se de um evento ocorrido no fatídico dia 11 de setembro de 2001, nas imediações das torres gêmeas em Nova York. Este pequeno conto foi extraído do livro “Small Miracles for the Jewish Heart” de Yitta Halberstam e Judith Leventhal, e encontrei outras traduções neste site e também neste outro (além de ter recebido por e-mail de um amigo).


Em uma pequena sinagoga, não muito distante das duas Torres do World Trade Center, como de costume, um grupo de judeus ortodoxos se encontrou, cedo pela manhã, para oficiar as preces matinais. Normalmente, não é problema reunir um minian (quórum de 10 homens exigido para as orações) e a sinagoga fica lotada de fiéis. Mas, na manhã de 11 de setembro de 2001, houve uma rara escassez de participantes.

Duzentos homens que trabalhavam no World Trade Center estavam, de fato, atrasados para o trabalho naquela manhã por causa da sua participação no serviço de shloshim, em memória de judeus mortos em um acidente. Mas seja lá qual for o motivo, a congregação se viu diante de um problema: o tempo corria e havia somente nove dos dez homens necessários para iniciar a reza de Schacharit. Todos eram profissionais sérios e tinham que estar nos seus escritórios no World Trade Center bem antes das 9h.

"O que faremos", eles se perguntavam, impacientemente, olhando seus relógios e andando de um lado para o outro. "Isto não acontece há anos! Onde está todo mundo? Tenho certeza de que o décimo homem chegará daqui a pouco", ao que outro respondia: "Temos que ter paciência”.

Finalmente, quando estavam todos quase desistindo e se preparando para fazer as preces individuais, ao invés de rezar com um minian, um homem velho que ninguém tinha jamais visto entrou pela porta e, olhando para o grupo, perguntou: "Vocês já daven?" (rezaram, em ídiche).

"Não senhor", um deles gritou, entusiasmado. "Nós o estávamos esperando". "Ótimo", respondeu o velho. "Tenho que dizer o Kadish pelo meu pai e preciso conduzir, eu mesmo, o serviço religioso. Estou tão contente que vocês ainda não tenham começado". Em circunstâncias normais, os homens teriam perguntado ao senhor educadamente qual era o seu nome, de onde vinha, como chegara até o shul, entre outras perguntas. Porém, estavam tão ansiosos para começar, que decidiram passar por cima do protocolo. Prontamente deram-lhe um sidur, esperando que ele fosse o próprio "Papa-Léguas" das rezas.

O velho, no entanto, provou ser exatamente o contrário! Ele parecia ler as páginas do sidur em câmara lenta. Os fiéis o respeitaram, mas definitivamente estavam "in shpilkes" (em ídiche, impacientes) para chegar ao trabalho. "Oi!", alguém disse frustrado, colocando a mão sobre a testa. "Nós realmente estamos atrasados".

Nesse momento, ouviu-se a primeira explosão. Eles correram para fora e viram a fumaça, o caos, os gritos da multidão e algo que se parecia com o apocalipse. Após o choque e horror inicial, eles logo se conscientizaram. Perceberam que haviam sido resgatados das garras da morte. Todos eles trabalhavam nas Torres do World Trade Center, e deveriam estar lá antes das 9h. Se não fosse pelo ancião e pela lentidão de suas preces matinais, muito provavelmente estariam mortos.
Então, todos se viraram para agradecer ao misterioso homem que salvara suas vidas. Eles queriam abraçá-lo, perguntar seu nome e de onde ele teria vindo naquela fatídica manhã. Mas suas perguntas ficaram no ar, sem resposta, pois quando se viraram, o homem tinha partido. Sua identidade será para sempre um mistério.

Esta é a história de um milagre, como tantos outros que ocorrem em nosso dia a dia, e que muitas vezes não nos damos conta. Trata-se do “errado que deu certo”, ou “o mal que vem para o bem”. São as pequenas sincronicidades e as “coincidências” que, se estivermos atentos, nos deixam em estado de graça para com a vida.

Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Quimeras Caóticas I

À beira de um lago, onde estou sentado para descansar da longa jornada da manhã, avisto no horizonte um vulto incógnito. Aproxima-se rapidamente, e a vaga figura revela-se um cavaleiro montado sobre um imponente cavalo negro. O homem veste uma armadura de ouro reluzente, tendo como insígnia um pentagrama limitado por uma circunferência. Encaro-o com uma curiosidade receosa tão logo o cavaleiro e seu cavalo se detêm diante de mim. Sem apear do animal, o paladino observa-me profundamente e rompe seu silêncio:

- Recomendo-te que te concentres nos aspectos práticos e na viabilidade de tuas idéias. Planeja teu futuro, fixando prioridades e estabelecendo metas para atingir teus propósitos. Sê prudente, firme, seguro e otimista. Reconheço tua qualidade de assumir responsabilidades e, por isso, concedo-te a confiança, que te fará capaz de superar os obstáculos.

Finaliza seu breve discurso com um leve aceno de cabeça, ao qual intuitivamente respondo da mesma forma. Com um ágil movimento de arreios, o misterioso homem põe seu cavalo negro em marcha, retornando para sua origem desconhecida. Acompanho-o com a vista, até que um último lampejo, reflexo de sua armadura dourada sob o sol, desaparece no mesmo horizonte que o fez surgir.

(Brunno, 04/09/2007)

domingo, 2 de setembro de 2007

Meditação


Por indicação de um grande amigo meu, estou lendo o quinto capítulo de “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”, do mestre espiritual budista Sogyal Rinpoche, editado no Brasil pela Palas Athena Editora. Neste capítulo, cujo título é “Trazendo a Mente para Casa”, o autor fala sobre a meditação.

Para despertar o interesse e como forma de apresentar um trecho-síntese deste interessantíssimo texto, veja o que diz Sogyal Rinpoche na página 86:


O Buda se sentou no chão em serena e humilde dignidade, com o céu sobre ele e à sua volta, como para mostrar-nos que na meditação você se senta com uma atitude mental aberta como o céu, embora permaneça presente na terra e com os pés no chão. O céu é a nossa natureza absoluta, sem barreiras e infinita, e o chão é a nossa realidade, nossa condição relativa e ordniária. A postura que assumimos quando meditamos significa que estamos ligando absoluto e relativo, céu e terra, espaço e chão, como duas asas de um pássaro, integrando a imortal natureza da mente, semelhante ao céu, e o solo da nossa natureza mortal e transitória.

A dádiva de aprender a meditar é o maior presente que você pode se dar nesta vida. Porque é apenas através da meditação que você pode empreender a jornada para descobrir sua verdadeira natureza e assim encontrar a estabilidade e a confiança de que necessita para viver e morrer bem. A meditação é o caminho para a iluminação.

(Sogyal RINPOCHE. “O Livro Tibetano do Viver e do Morrer”. Palas Athena. Pág. 86)

A partir do trecho acima, o texto segue se aprofundando neste tema e trata sobre treinamentos, práticas e métodos para a meditação. Muito interessante e recomendável.

Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

sábado, 1 de setembro de 2007

Sobre ausências, atrasos e mudanças

Primeiramente, gostaria de me desculpar pelo longo período de ausência: mais de dois meses sem publicar um post qualquer no blog. De qualquer forma, apesar de alguns contratempos, acredito que a partir de agora publicarei textos com mais freqüência e, se for o caso, tentarei avisar antes os eventuais “períodos de ausência”.

Gostaria também de agradecer aos leitores, que aceitarão minhas desculpas e continuarão a prestigiar este blog (assim espero :-). Como recompensa à sua fidelidade, me comprometo a ser mais assíduo a partir de agora! :-)

Aproveitando, gostaria de anunciar algumas mudanças que Olhar Mutante sofrerá, a partir deste mês de setembro. Ao invés de artigos mais longos e com maior intervalo de publicação (como tem sido até então), experimentalmente a nova proposta editorial será a seguinte: textos mais curtos publicados em um intervalo de tempo bem menor. A idéia, portanto, é tornar o Olhar Mutante também dinâmico (além de mutante :-).

Devido ao período de hibernação e transformação deste blog, pretendo me redimir dos “atrasos” e, um dia depois, publicar minha contribuição e indicações para o “Dia do Blog”, no post logo abaixo.

Que o dinamismo e as mudanças tragam renovações e aprendizados. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

Dia do Blog (mais um)

Blog Day 2007

Como disse no post logo acima, as ausências, atrasos e mudanças me levaram a publicar hoje, um dia depois, minhas indicações para o “Dia do Blog” (Blog Day). Espero que ainda esteja em tempo de contribuir com minha opinião sobre alguns blogs.

Creio que muita gente já sabe do que se trata o “Dia do Blog”, principalmente quem edita, publica e/ou lê blogs com freqüência. (Mesmo no meu caso, que estive um “bom tempo de férias” forçadas deste blog). Para quem não conhece, saiba mais neste site.

A idéia é que você indique alguns (cinco, mais especificamente) blogs que você leia com freqüência, ou que você descobriu por acaso e gostou, com o objetivo de expandir o conhecimento sobre blogs (famosos ou quase-anônimos) existentes. Neste caso, minhas indicações estão abaixo (não necessariamente em ordem de importância):

  1. Não só mais um na multidão - blog do Léo, que traz reflexões, idéias, alegrias e angústias de quem não é só mais um na multidão.
  2. QueroTerUmBlog.com! - blog de Alessandro Martins com dicas e opiniões importantes (ou melhor, essenciais) para aqueles que pretendem escrever um blog (e também para os que já escrevem, como é o meu caso :-).
  3. Clube da Mafalda e Depósito do Calvin - opção dois-em-um: blogs que publicam tirinhas das personagens mais interessantes, complexas e filosóficas (em minha opinião) dos quadrinhos: Mafalda, do argentino Quino + Calvin e Haroldo, do estadunidense Bill Waterson. Reflexão com diversão!
  4. Faça a sua parte - blog para divulgação de notícias sobre questões ambientais e, principalmente, dicas para cada um “fazer a sua parte” no cuidado para com a Mãe-Terra.
  5. Grupo de Estudo de Arte, Filosofia e Psicanálise - acabo de descobrir este blog de Maria Leite, psicanalista e doutora em Literatura.

Muitos outros poderiam entrar nesta lista, certamente. Mas em minha opinião, estes blogs representam bem o que tenho encontrado de interessante na blogosfera atualmente.

Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.


quarta-feira, 13 de junho de 2007

Interioridade e Escuta

Tenho participado e colaborado na divulgação de um evento organizado por um grande amigo meu, cujo título é "Interioridade e Escuta". O evento é gratuito e sua proposta é reunir pessoas interessadas em debater sobre as grandes questões da humanidade e pensar o ser humano diante do Grande Mistério que nos sonda: “Que dias há que na alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porquê.” (Luís Vaz de Camões).

Na primeira edição, realizada em 25/05/2006, tivemos a presença de Amnéris Maroni, psicoterapeuta junguiana e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Unicamp. Nesta oportunidade, Amnéris proferiu a palestra "Outras palavras" e, a partir de grandes pensadores da psicanálise, fez uma crítica ao recorrente esforço cientificista em categorizar, descrever, nomear e assim recusar o mistério do inominado. Citando Maurice Blanchot, ela aponta que “a resposta é a desgraça da pergunta”. Além disso, propôs a prática de uma escuta interior e poética, possibilitando o reencantamento de nossa realidade. Colocar-se em silêncio, embora pareça paradoxal, é o que nos permite estabelecer uma verdadeira comunicação: sem a presunção daquele que “já sabe”, tornamo-nos mais abertos e receptivos para apreender e aceitar a experiência que nós é oferecida. Em “outras palavras”, é o que também diz Luiz Carlos Lisboa, em seu maravilhoso livro “O som do silêncio”: “Quando sei que não sei e aceito isso com prazer, abro meus sentidos para a vida e sou de novo um aprendiz (...) É quando não sei que me deleito com a beleza do que não conheço”.

Em 24/11/2006, na segunda edição, o palestrante foi Sheikh Muhammad Ragip, responsável pela Ordem Sufi Halveti Jerrahi no Brasil. Na palestra “O Tesouro Oculto”, Sheikh Ragip falou, através do ponto de vista da espiritualidade islâmica, sobre o conhecimento de si mesmo e do Amor Primordial que habita todos os seres. Boa parte da palestra foi abordada através da perspectiva de um grande poeta e místico persa chamado Rumi, que viveu no século XIII. Entre outras obras, Rumi escreveu uma coleção de livros chamada Masnavi (conforme opinião de Sheikh Ragip, a melhor tradução desta obra é a de Reynold A. Nicholson). E é justamente um poema extraído do Masnavi que sintetiza a beleza e profundidade deste encontro sobre a mística islâmica: uma metáfora da alma humana que, em sua incompletude, anseia pelo retorno à Origem-Amor.

Ouça a flauta, como conta sua história, queixando-se da separação, dizendo:
Desde que fui separada de minha raiz, meus lamentos levam homens e mulheres a chorar.
Eu quero um peito despedaçado pela separação, para que a ele possa revelar a dor do amor-desejo.
Todo aquele separado da sua origem anseia pela volta ao tempo em que a ela estava unido.
Gritei minhas tristes notas, me associei aos infelizes e com eles me alegrei.
Todos tornaram-se meus amigos por si próprios, nenhum alcançou o segredo do meu íntimo.
Meu segredo não está distante de meu lamento, mas olhos e ouvidos não podem apreender.
O corpo não está oculto para a alma, nem a alma para o corpo, porém a ninguém é permitido ver a alma.
O som dessa flauta é fogo e não ar, aquele que não tem esse fogo é nada.
É o fogo do amor que está na flauta, esse é o fervor do amor que está no vinho.


A partir dessa breve recordação dos eventos anteriores, gostaria de divulgar e convidá-los a mais um encontro “Interioridade e Escuta". Nessa terceira edição, a realizar-se no dia 14/06/2007 às 20hs, haverá uma palestra sobre os sonhos segundo a visão do teólogo medieval Tomás de Aquino, considerado santo e doutor dentro da Tradição Católica. A palestra “Pensando o sonhar com Tomás de Aquino” será proferida por Mauro Amatuzzi, professor aposentado da USP e atualmente docente da PUC-Campinas, onde se dedica a pesquisas em psicologia fenomenológica e estudos da interface entre psicologia e religião.


O EVENTO:
Interioridade e Escuta – Palestra: “Pensando o Sonhar com Tomás de Aquino”.
Data e Horário: 14/06/2007 às 20:00.
Local: Casa Santo Inácio de Loyola – Rua Bernardo de Souza Campos, 148 (próximo ao Colégio Dom Barreto) – Ponte Preta – Campinas/SP.
Inscrições gratuitas através do e-mail stinacio@gmail.com, enviando nome e telefone.
Outras informações: (19) 3233-4181

Que tenhamos mais momentos de interioridade e escuta. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Palestra com Professor Hermógenes

Na última terça-feira, dia 15 de maio, no Espaço Cultural CPFL em Campinas, o Prof. Hermógenes – um dos precursores do Hatha Yoga no Brasil – proferiu uma palestra sobre Yoga, abordando também um pouco de suas experiências e de como a prática e a filosofia do Yoga são importantes para o equilíbrio e o bem-estar. Ressaltou a importância da mudança de hábitos, e da substituição do atual “Adoeça-se” – muito comum na vida cotidiana do homem moderno – pelo “Saúde-se!”.

Prof. Hermógenes soube combinar momentos de descontração (o bom humor é uma característica de toda grande alma) e também momentos de êxtase místico – pelo menos no meu caso particular, que me “arrepiei” por algumas vezes e reconheci traços da Verdade em suas palavras e sabedoria. Foi certamente um grande encontro, e o presente da presença desta grande alma.

A palestra foi finalizada com a leitura do poema abaixo, de autoria dele. Uma bela expressão místico-poética, capaz de sintetizar aquele agradável bate-papo...

Se (Prof. Hermógenes)

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...

Se algum ressentimento,
Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...

Se, ainda incapaz para a beatitude das almas santas,
precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.


Que saibamos aproveitar as oportunidades de expansão de consciência. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Paulo Freire

"Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino". (Paulo Freire)



Em 2 de maio de 1997, há dez anos atrás, falecia Paulo Freire.

Entretanto, suas obras e ensinamentos continuam vivos entre aqueles que buscam pôr em prática um autêntico trabalho de educação. A sociedade atual continua a precisar de novas práticas pedagógicas, da consolidação da democracia, de uma cultura de tolerância e solidariedade, do reconhecimento de igualdades. Em minha opinião, a pedagogia freireana é, principalmente, uma pedagogia do amor. "Não se pode falar de educação sem amor" (Paulo Freire).

Em memória a este grande Mestre e Educador, muitos eventos serão realizados para celebrar uma década de sua ausência (e sempre presença). A Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) realizará o V Seminário Paulo Freire no dia 9 de maio, a partir das 9 horas, em seu Centro de Convenções. No site do Instituto Paulo Freire, pode ser conferida a programação de muitos outros eventos cujos temas relembrarão o Educador e sua obra. A Editora da Unesp deve também relançar alguns livros do autor em comemoração a esta data.

Há uma década, “o menino que lia o mundo” repousou seus olhos e foi buscar outras paisagens para aprender e ensinar. Ao pensar em Paulo Freire, este menino, lembro-me de uma comovente passagem da história de Miguilim, do genial João Guimarães Rosa. Miguilim, ao colocar os óculos, descobre que um outro mundo existe. Tanta coisa bonita, diferente, nem era possível imaginar. Que deslumbramento é enxergar um mundo novo, ter diante dos olhos o encanto da novidade de um mundo em constante mudança. Afinal, como dizia o próprio Paulo Freire: “O mundo não é, o mundo está sendo”.

Que os ensinamentos de Paulo Freire continue a nos inspirar. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Águas

Na semana passada, dia 22 de Março, foi comemorado o Dia Mundial da Água. Naquele dia, noticiei sobre uma emblemática campanha iniciada na Argentina – e ainda há tempo para filiar-se à mesma – com o objetivo de convidar-nos a uma nova relação com este importante recurso natural. Embora a data já tenha passado, a reflexão precisa continuar. Aproveitando que ainda é tempo de águas de março, podemos estender um pouco mais nosso debate sobre este tema.

Certamente, ações políticas e grandes campanhas de mobilização podem ser bastante efetivas neste sentido. Porém, embora pareça mais confortável para nós delegar essa importante questão para “esferas superiores”, isentando-nos da responsabilidade, devemos reconhecer que cada um de nós também pode contribuir, através de pequenas mudanças em nosso cotidiano. Nunca é tarde para nos questionarmos: “Que mudanças eu posso fazer nos meus hábitos para contribuir para um consumo sustentável de água?”.

É evidente que precisamos tomar atitudes em busca de um consumo mais consciente. Manter a torneira fechada enquanto se escova os dentes ou se barbeia, consertar vazamentos, pequenas reduções no tempo de banho, otimizar o uso de máquinas lava-louças e lava-roupas, evitar lavar calçadas são ações ao alcance de todos nós e que ainda podem nos favorecer com um abatimento na conta de água, além do benefício ambiental. Não é nada impossível, não é mesmo? E, com pequenas mudanças, vamos todos contribuindo para as grandes transformações.

Para finalizar, em tempos de certos desequilíbrios, cabe recorrermos à sabedoria dos povos mais próximos à Natureza e com eles aprendermos. Como ensina-nos o chefe Seattle em um trecho de sua famosa carta ao presidente dos Estados Unidos:

“Essa água brilhante que corre nos rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, devem ensinar às crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças davida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.”

Também não me parece ser à toa que, entre as divindades africanas (Orixás), Iemanjá (deusa dos mares) e Oxum (deusa dos rios, lagos e cachoeiras) sejam também consideradas deusas da maternidade, a origem da vida. Não há como separar água e vida.

Que nós consumamos a água conscientemente, como um sacramento que nos proporciona a vida. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

Declaração Universal dos Direitos da Água

1. A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada região, cada cidade, cada cidadão é plenamente responsável aos olhos de todos.

2. A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida e de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela não poderíamos conceder como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 30 de Declaração Universal dos Direitos Humanos.

3. Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo a água deve ser manipulada com racionalidade, preocupação e parcimônia.

4. O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e dos seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente, para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende, em particular, da preservação dos mares e oceanos por onde os ciclos começam.

5. A água não é somente uma herança dos nossos predecessores, ela é sobretudo um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como uma obrigação moral do Homem para as gerações presentes e futuras.

6. A água não é uma doação gratuita da natureza, ela tem um valor econômico: é preciso saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.

7. A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e diascernimento, para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração de qualidade das reservas atualmente disponíveis.

8. A utilização da água implica o respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo o homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo Homem nem pelo Estado.

9. A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.

10. O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

Fonte: Universidade da Água

quinta-feira, 22 de março de 2007

Rio da Vida

Hoje, dia 22 de Março, comemora-se o Dia Mundial da Água. Aproveitando esta data, gostaria de chamar-lhes a atenção para uma bonita campanha iniciada na Argentina, país vizinho e nação-irmã, coordenada por pessoas conscientes e temerosas quanto ao futuro deste recurso natural precioso.

O projeto propõe a mudança de nome do
Rio de la Plata (Rio da Prata) para Rio de la Vida. O Rio de la Plata é o principal da Argentina, segundo mais largo do mundo e um dos orgulhos portenhos. Plata (prata, em português) tem também o significado de “dinheiro” e a campanha busca justamente refletir sobre essa dicotomia: dinheiro versus Vida.

Entre o dinheiro e a Vida, qual é o mais importante? Daremos preferência ao dinheiro, proveniente de uma relação de devastação, exploração e desrespeito pela água e demais recursos naturais? Ou priorizaremos a vida, através de um desenvolvimento sustentável e consumo consciente destes recursos fundamentais – e que estão se esgotando – para a manutenção da nossa existência na Mãe Terra?

Ou seja, a questão não é a simples mudança do nome deste famoso rio. Trata-se de um ato simbólico de extrema importância, que pretende nos chamar a atenção e elevar nossas consciências para buscarmos um equilíbrio entre consumo e preservação ambiental. Portanto, esta campanha transcende as fronteiras argentinas, e convida-nos a todos – cidadãos do mundo – para dizermos “Sim à Água”, “Sim ao Consumo Responsável”, “Sim à Vida”. Unindo-se a esta proposta, estaremos emitindo uma mensagem de amor, respeito e gratidão por aquilo que nos mantém vivos.

Abaixo, apresento a tradução para o português do texto original da campanha. Esta versão traduzida também foi publicada em uma página do site da campanha.


22 de Março de 2007 - Dia Mundial da Água

O que acha de mudarmos o nome do “Rio da Prata” para “Rio da Vida”?

Isso nos inspiraria a fazer rapidamente as mudanças necessárias? Deixaria clara nossa posição em relação à prata e à vida?

A cada 19 segundos morre uma criança no mundo por falta de água potável e saneamento. Nossas atitudes para com a Água em geral e com o Rio da Prata em particular impactam na gravidade deste número.

Qual era originalmente o nome do Rio da Prata?

* Dizem que os índios o chamavam Paraná-Guaçu (“rio grande como um mar”).
* Que em 1516 Juan Díaz de Solís o denominou Mar Doce (Mar Dulce).
* E que em 1526, Sebastián Gaboto o chamou de Rio da Prata (Rio de la Plata), enganado pelo metal precioso que encontrou nas mãos de um indígena, sem saber que estes o haviam tomado dos marinheiros da expedição portuguesa comandada por Aleixo Garcia. Embora a confusão tenha sido esclarecida pouco depois, o nome se manteve.

Rio da Prata (Rio de la Plata), um nome resultante da confusão de pessoas que buscavam riquezas para levá-las a um outro lugar.

A coragem de optar por Rio da Vida (Rio de la Vida) nos ajudaria a enfrentar os futuros desafios que os relatos científicos antecipam?

Os índices de contaminação, que põem em risco a própria Vida, mostram mais o desinteresse dos portenhos (rioplatenses) que o seu Amor pelo Rio.
Abaixo alguns fatos que, embora os ignoremos, confirmam o que foi acima citado:

1) Os dejetos industriais e domésticos despejados de forma descuidada no Riachuelo e no Rio Reconquista, justamente os mais contaminados da Argentina, envenenam perigosamente o Rio da Prata. Há mais de 12 mil indústrias cujos dejetos contaminam o Rio Reconquista. Estas fabricam, de maneira irresponsável, diferentes produtos que consumimos cotidianamente sem nos importarmos em como são produzidos. Segundo um informe da Defensoría del Pueblo de la Nación, o Riachuelo é “... um dos mais alarmantes problemas ambientais, de saúde pública, urbanísticos e sociais do qual o país padece ...” Em Berazategui deságuam mais de 2 milhões de metros cúbicos de dejetos humanos sem qualquer tipo de tratamento.

2) Sem falar da gigante indústria de celulose e papel (pastera) que está se instalando na nascente do Rio da Prata. Pertence a uma empresa que em seu país de origem, Espanha, é multada por não cumprir as leis ambientais. Foi recebida de braços abertos, sem considerar o futuro de nossos filhos e netos. Por acaso achamos que por estar distante de nossos olhos, a contaminação não nos afetará?

3) A contaminação das Águas iniciou um conflito internacional que está longe de terminar e poderia ser o começo da anunciada “Guerra pelo Ouro Azul”. Há quem afirme que logo a indústria da guerra, que move um trilhão de dólares por ano, deixará de se focar no Oriente Médio para se instalar e continuar crescendo aqui. O petróleo está se esgotando, e onde eles lutarão agora? Teremos ao vivo e a cores o que hoje vemos nos noticiários? Vivemos junto ao segundo Rio mais largo do mundo e sobre a maior reserva de água doce do planeta, o Aqüífero Guarani. Deixaremos de ser uma região em “desenvolvimento” para ser uma região em “destruição”?

Do mesmo lugar em que despejamos negligentemente nossos detritos, tiramos a “água para viver”.

Será que é porque vemos a Prata e não a Vida? Adotamos o olhar dos colonizadores? Extraindo tudo aquilo que nos serve, depois simplesmente partimos. Onde? Quantos? Por quanto tempo?

Diversas pesquisas científicas atualmente confirmam o que os ambientalistas anunciaram há muito tempo atrás e não quisemos dar ouvidos: MUDEMOS URGENTEMENTE NOSSO COMPORTAMENTO OU A VIDA NA TERRA TERMINARÁ EM POUCAS DÉCADAS. A MAIOR VERGONHA PARA UMA ESPÉCIE QUE SE CONSIDERA INTELIGENTE.

Propomos alterar o nome de Rio da Prata para Rio da Vida, a fim de estimular as mudanças necessárias e gerar comportamentos que acabem com o Consumismo, e o substituam pelo Uso Responsável, deslocando a exploração e a produção para dar lugar ao Desenvolvimento Sustentável.

Recordando que a Água se compartilha. Para o bem de Todos. Pensando em nossos Filhos. E nossos Netos.

Declaremos nosso Amor pelo Rio que nos dá Vida.

O que você prefere: A prata ou a Vida? Deseja fazer parte dessa mudança e assinar esta proposta?


No dia de “seu aniversário”, imagino que este seria um ótimo presente que poderíamos oferecer (simbolicamente) para homenagear a “aniversariante” Água.

Que cada vez mais sejamos conscientes do necessário equilíbrio entre consumo e preservação. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

sexta-feira, 9 de março de 2007

Breve reflexão sobre o Dia Internacional das Mulheres

Embora com um dia de atraso, gostaria de deixar uma breve reflexão sobre a data que foi celebrada ontem.

Há controvérsias em relação ao Dia Internacional da Mulher. Para algumas pessoas, é uma data festiva, para se comemorar e presentear as mulheres com quem se convive. Para outras, a data é vista como momento para relembrar os movimentos políticos e as manifestações operárias em que as mulheres tomaram parte, reivindicando o reconhecimento da dignidade e igualdade social (embora reconhecidas - e devendo ser respeitadas - as diferenças biológicas). Há ainda aqueles que são indiferentes, e sequer se lembram de que este deveria ser um dia especial.

A minha opinião é que nenhuma das três atitudes acima, isoladas, são as mais completas. Explico-me: não acredito que deva ser celebrado apenas o aspecto festivo da data; também acho que não se deve reduzir a data a meras recordações de movimentos políticos e tragédias oriundas do não-reconhecimento da mulher; e, certamente, discordo totalmente de que esta data não deveria existir, ou que deveríamos ser indiferentes ao que ela representa.

Mas sim, acredito que o dia 08 de março sirva para nossa expansão de consciência e para nossas reflexões sobre as diferenças de gênero socialmente impostas, lembrando que a questão de gênero é apenas uma dentre outras tantas diferenças que convencionamos para subjugar e praticar o exercício de poder.

Há em mim uma esperança de que o aspecto feminino (que há em todas as mulheres, em todos os homens e também em todas as coisas, juntamente com seu oposto complementar masculino) possa nos trazer mais ternura, mais receptividade, mais solidariedade, mais compaixão e mais intuição para promover o equilíbrio em nossa sociedade tão saturada de valores masculinos (competitividade, individualismo, poder, razão).

Que o Feminino possa se manifestar e equilibrar nossas ações. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Sobre a transposição do Rio São Francisco

No ano de 2005, Dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra, na Bahia, realizou greve de fome durante dez dias, em protesto ao projeto governamental de transposição do Rio São Francisco. Através deste ato não-violento, conseguiu atrair a atenção da opinião pública e obteve também a oportunidade de negociar com o presidente Lula a questão do abastecimento de água no semi-árido nordestino.

Entretanto, como o Ministério da Integração Nacional – responsável pelo projeto – segue com a proposta da transposição, há alguns dias atrás (22/02) Dom Cappio divulgou uma carta enviada ao presidente Lula, solicitando a reabertura das discussões e a análise de propostas alternativas que, segundo o bispo, totalizam “530 obras para solucionar os problemas de abastecimento hídrico até 2015 (...) mais baratas, mais abrangentes, mais eficientes que qualquer obra de transposição hídrica.

Em novembro do ano passado, o Tribunal de Contas da União realizou uma auditoria no Projeto de Transposição, cujos resultados indicam uma abrangência social aquém do esperado em vista dos investimentos estimados.

Assim, em minha opinião, a perseverança de Dom Cappio é o testemunho de que temos de nos posicionar e ter senso crítico acerca de temas relevantes como este, cujos impactos sócio-ambientais podem ser desconsiderados em favor de interesses políticos e econômicos. Veja abaixo a íntegra da carta do bispo ao presidente.

Barra, 21 de fevereiro de 2007
Quarta-feira de Cinzas

Caro Presidente Lula
Paz e Bem!

Escrevo-lhe hoje, dia em que a Igreja do Brasil lança a Campanha da Fraternidade 2007 sobre a Vida da Amazônia e toda a sua riqueza humana e natural.

O objetivo desta carta, amiga e fraterna, é retomar o diálogo que assumimos juntos por ocasião de nosso encontro no dia 15 de dezembro de 2005 em sua sala de trabalho no Planalto. Agradeço pelas oportunidades que os representantes da sociedade brasileira e
representantes do governo tivemos de iniciar o debate sobre assuntos tão importantes como: Projeto de Revitalização do São Francisco, Projeto de Transposição das águas do Rio São Francisco, Projeto de Desenvolvimento Alternativo para o semi-árido brasileiro, na busca de um consenso que soe em acontecer numa sociedade democrática.

Retorno o diálogo justamente quando a humanidade, estarrecida, toma consciência das conseqüências do aquecimento global, com impacto em todo o planeta, particularmente na vida de bilhões de seres humanos, inclusive na já historicamente oprimida e humilhada população nordestina.

Retomo o diálogo quando o Rio São Francisco, mais assoreado, sofre uma grande cheia e sua população ribeirinha, a quinhentos metros do rio, passa sede, como mostrou, nessa semana, o Jornal Nacional.

Retomo o diálogo quando uma menina morreu afogada em um dos canais que supre os perímetros irrigados de Petrolina (Pe), por ter ido "roubar" água para matar sua sede e da sua família.

Retomo o diálogo quando o senhor fala em iniciar as obras de transposição que irão consumir inicialmente R$ 6,6 bilhões, mais de 50% de todo o orçamento destinado a recursos hídricos no Programa de Aceleração de Crescimento (PAC).

Retomo o diálogo quando o Tribunal de Contas da União (TCU) afirma publicamente, em seu relatório, que o Projeto de Transposição de Águas do São Francisco não beneficia o numero de municípios e de pessoas que afirma atingir.

Retomo o diálogo quando o mesmo Tribunal, através do acórdão 2020/2006, determinou ao Ministério da Integração e ao Ministério da Defesa que não utilizem recursos públicos para execução de obras de transposição enquanto não houver decisão definitiva sobre a validade de licença prévia concedida pelo Ibama.

Retomo o diálogo quando a Agência Nacional de Águas (ANA), organismo de Estado criado para a gestão estratégica do uso da água no Brasil, propõe 530 obras para solucionar os problemas de abastecimento hídrico até 2015 em todos os núcleos urbanos acima de cinco mil habitantes do semi-árido brasileiro até 2015. Essas obras beneficiariam as populações mais necessitadas e custariam R$ 3,6 bilhões, portanto, mais baratas, mais abrangentes, mais eficientes que qualquer obra de transposição hídrica.

Em nosso encontro, acima referido, o senhor me disse que "não seria louco de levar essa obra à frente se apresentássemos uma alternativa melhor". Agora, somando as obras propostas pela ANA juntamente com as iniciativas de captação, armazenamento e manejo de água de chuva desenvolvidos pela Articulação do Semi-Árido (ASA), o senhor tem uma chance de escolha muito melhor, pela qual seu governo ficará marcado para sempre na história do nordeste brasileiro, sua terra natal.

Não faltam alternativas. Falta uma decisão política mais lúcida.

Nosso pedido, senhor presidente, é que se retome o diálogo e que se garanta que seja amplo, transparente, verdadeiro e participativo, incluindo toda a sociedade do São Francisco e do Semi-Árido, conforme foi pactuado em Cabrobó em outubro de 2005 e renovado através de pedido formal por carta protocolada em 6 de fevereiro último.

Senhor presidente, sempre vestimos sua camisa. Ainda estamos vestidos nela. Nossa contribuição de fiel militante da causa do povo é para o senhor seja verdadeiramente aquilo a que se propôs, o de ser o presidente de todo o povo brasileiro, especialmente dos pobres deste país, por serem os que mais necessitam de sua atenção.

Receba nossa saudação amiga e fraterna, com votos de uma Feliz e Santa Páscoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Dom Frei Luiz Flávio Cappio, OFM
Bispo Diocesano de Barra - Bahia

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Cartilha para uma agricultura sustentável

No último mês de janeiro, houve uma publicação bastante interessante por parte da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), que divulgou um estudo a fim de contribuir com o manejo sustentável nos diferentes biomas do Brasil (Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Pampa e Caatinga).

Elaborada didaticamente em forma de cartilha, constitui-se um importante instrumento para agricultores, pesquisadores, gestores ambientais e políticos, para que possam discutir e apresentar novas propostas – sustentáveis - de relações sócio-econômicas com a flora regional. Para maiores informações, acesse a cartilha na íntegra.

Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Gandhi

Nesta mesma data (30 de janeiro), há 59 anos atrás (1948), morreu Mohandas Karamchand Gandhi. Este indiano dedicou sua vida em busca da verdade (satyagraha; do sânscrito: satya – verdade, agraha - busca), liberdade, igualdade, respeito e tolerância às diversidades (por sinal, foi assassinado por um hindu que justamente não aceitava sua tentativa de conciliar duas profissões de fé divergentes, como hinduísmo e islamismo). Através de seu carisma, liderou milhões de indianos para a conquista da independência da Índia, então sob domínio inglês. A oposição à metrópole britânica proposta por Gandhi baseava-se no princípio da não-violência (ahimsa). Conforme suas próprias palavras:



“O que quer que façam conosco, não iremos atacar ninguém nem matar ninguém; estou pedindo que vocês lutem, que lutem contra o ódio deles, não para provocá-lo. Nós não vamos desferir socos, mas tolerá-los, e através do nosso sofrimento faremos com que vejam suas próprias injustiças e isso irá ferí-los, como todas as lutas ferem, mas não podemos perder, não podemos... Eles poderão torturar meu corpo, quebrar meus ossos, até me matar, então terão meu corpo inerte, mas não a minha obediência” (Gandhi)



E assim, através de boicotes aos produtos ingleses, manifestações pacíficas, desobediência civil às leis injustas e perseverança por longos anos, o povo indiano obteve sua independência no ano de 1947.


Portanto, não é à toa que também nesta data é comemorado o Dia da Não-Violência. Gandhi legou-nos, através de atos e palavras, o testemunho de uma vida dedicada à cultura de paz, mostrando-nos que através da não-violência é possível vencer – fazer o bem em troca do mal. De fato, esta atitude perante à vida e aos conflitos soa bastante incomum em uma sociedade competitiva como esta que construímos e mantemos. Provavelmente foi este o motivo que levou Einstein a dizer o seguinte sobre Gandhi:

“Generations to come will scarce believe that sucha one as this walked the earth in flesh and blood.”
(Tradução livre: “As gerações por vir dificilmente acreditarão que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra.”)


Antes de Gandhi, outras grandes almas (vêm do sânscrito “Mahatma”, nome atribuído a ele) também pregaram a cultura de paz e a não-violência. Jesus Cristo revoga a lei do “olho por olho, dente por dente”, condenando a vingança – não retribuir o mal com o mal. "Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados filhos de Deus", diz o Mestre de Nazaré em seu Sermão da Montanha.


Siddharta Gautama, o primeiro Buda, ensina-nos a importância de se evitar o mal e a praticar o bem: "Praticar o bem, abster-se do mal e purificar seus pensamentos, são os mandamentos de todo iluminado." E diz ainda que: "Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio; o que acaba com o ódio é o amor."


Os grandes Mestres sempre apontaram que “a paz é o caminho”. Desenvolver a cultura de paz implica na prática cotidiana de cada um, para que haja uma verdadeira conversão. Ou ainda, como diz Gandhi: "Faça da tua vida um reflexo da sociedade que desejas."


Que Gandhi e outras grandes almas nos inspirem. Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Aquecimento Global

Não há como negar que o aquecimento global é de fato uma realidade e um desafio a ser encarado por todos. O IPCC (Intergovernamental Panel on Climate Change – Painel Inter-governamental sobre Mudanças Climáticas), criado pela Organização Meteorológica Mundial para fornecer informações sobre este tema, afirma em seu último relatório (de 2001, sendo que um novo relatório deve ser publicado este ano) que:

“The Earth’s climate system has demonstrably changed on both global and regional scales since the pre-industrial era, with some of these changes attributable to human activities.” (pág. 4)
(Tradução livre: O sistema climático da Terra tem sido comprovadamente modificado tanto em escala local quanto regional desde a era pré-industrial, sendo que algumas dessas mudanças são atribuídas às atividades humanas).

“There is new and stronger evidence that most of the warming observed over the last 50 years is attributable to human activities.” (pág. 5)
(Tradução livre: Há nova e mais forte evidência que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuído às atividades humanas).



Além deste importante relatório, há muitos outros trabalhos e projetos igualmente alarmantes, dentre os quais o filme-documentário "Uma verdade inconveniente", lançado recentemente e que traz esclarecimentos a essa questão.

É esperançoso observar que muitas consciências estão se unindo para que, em tempo hábil, o ser humano possa reparar os efeitos nocivos causados pela sua ação irresponsável junto ao meio ambiente, a partir de contra-ações que minimizem o risco – eminente – de um processo irreversivelmente destrutivo.

Nesse sentido, cabe ressaltar a proposta da União Européia, divulgada há alguns dias (10/01), para reduzir em 20%, em relação aos níveis de 1990, a emissão de gases causadores do efeito estufa. Outras medidas também devem fazer parte desta iniciativa para o setor energético europeu, tais como aumento do consumo de biocombustíveis e fontes renováveis de energia. Embora haja controvérsias sobre a suficiência desta medida para evitar os efeitos previstos do aquecimento global, já há o positivo pressuposto de que um bloco de Estados tão influente como a Comunidade Européia move-se em favor desta causa.

Outras iniciativas devem se somar a esta. O Brasil, considerado um país de vanguarda no que se refere ao uso de combustíveis como álcool e biodiesel, também apresenta discussões sobre matriz energética renovável em seu planejamento de desenvolvimento para os próximos anos.

Que outros países, especialmente aqueles responsáveis pelas maiores ofensas ao equilíbrio ambiental, juntem-se a essa grande causa comum e, gradativamente, contribuam para a expansão de formas mais sustentáveis de relação com a Natureza. Gaia apreciará e, consequentemente, nós todos teremos motivos para agradecer.

Que a Paz prevaleça. E que as boas notícias ecoem pelo Universo e encontrem ressonância em todos os seres.

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Ano Novo, ausência e desculpas

Caros amigos e amigas, leitores e leitoras.

Primeiramente, peço desculpas pela ausência de atualizações e publicações. Espero que não abandonem o Olhar Mutante por conta deste pequeno desvio por parte de quem vos escreve. Estive de férias a partir do Natal (deeeeeesde o ano passado) e só hoje voltei a acessar e publicar neste blog.

Aproveitando a oportunidade, gostaria de desejar a todos um ano novo (ainda é tempo, certamente) de muitas realizações. Que surjam novos projetos e que os antigos possam ser finalizados ou renovados, trazendo mais ânimo para continuar a caminhada. Que haja muita experiência e "experimentações". Que os eventuais tropeços tragam muito aprendizado e fortalecimento. Que a paz prevaleça. Que haja mais amor, fraternidade e tudo que nossa esperança abarcar. E, finalmente, que em 2007 possamos ser cada vez mais sujeitos de nossa história, contribuindo para que haja mais boas notícias brotando desta maravilhosa Mãe Terra.

Seja bem vindo e bendito, 2007!